Todos os dias nos apercebemos que, em todo o país, há um tipo de criminalidade violenta que está a florescer. A crise económica influencia evidentemente este fenómeno. Mas não é a única justificação. A própria resposta da Justiça deve ser pensada ao nível da criminalidade juvenil. Temos uma função repressiva e o problema que estamos a assistir é a uma explosão de jovens a praticar crimes com um sentimento de alguma impunidade. Sem pôr culpas a ninguém, questiono se temos um sistema adequado em termos de jurisdição de menores a trabalhar esta realidade antes da prática deste tipo de crimes? Por regra, antes deste tipo de crimes há pequenos delitos e sinais de desestruturação social. A explosão da criminalidade é a criminalidade juvenil.
Temos cada vez criminosos mais jovens. Muitos deles sem antecedentes. Para a PJ, torna-se complicado porque, não havendo referências anteriores, o trabalho é iniciado do zero. Muitos roubos são feitos em cima do joelho, sem planeamento. As últimas detenções são de gente muito nova. Os clássicos criminosos, com antecedentes criminais e mais violentos, na zona do Norte, estão presos. Temos assistido a assaltos de um nível mais baixo, de restaurantes, de farmácias, de CTT, que antes seriam vítimas de furtos mas não roubos [com violência]. Está-se a assistir a uma explosão de criminalidade violenta, mas ao mesmo tempo em termos de quantitativos são muito pequenos. É quase o sustento para o dia-a-dia...
Entra também o desemprego. Pessoalmente, penso que também entra a forma como foram construídos e delimitados alguns bairros sociais. A polícia de proximidade tem alguma dificuldade em ter acesso a eles. Aquando da construção não se pensou na segurança nem na facilidade com que a polícia pode intervir. Foi um período histórico em que se tentou resolver o problema da habitação, mas acabou por transformar-se em guetos . Aí, as referências são elementos que exibem carros e dinheiro, apesar de terem problemas de famílias desestruturadas, e não encontram outras referências sociais.
Director da Polícia Judiciária, João Batista Romão no Jornal de Notícias