"Nesta escola, cerca de 80% dos alunos têm atitudes semelhantes à da estudante da Carolina Michaëllis e eu rejeito liminarmente a ideia de que a solução para estes problemas passe pela expulsão ou sequer mudança de escola, mas sim pelo acompanhamento." Quem o defende é o presidente do Conselho Executivo da pior escola do ranking nacional, o Agrupamento de Escolas de Apelação, no concelho de Loures, que alberga cerca de 640 alunos. Para Félix Bolaños, em casos como o ocorrido recentemente no Porto, os professores devem dar-se ao respeito e "consciencializar os alunos para o erro que estão a cometer".
Logo à entrada da Escola Básica Integrada de Apelação, onde fica a sede do agrupamento de escolas, a reportagem do DN testemunhou os conflitos relatados por Félix Bolaños: três rapazes com pouco mais de dez anos entretinham-se a deitar ao chão um colega e pontapeá-lo nas costas. "É o tipo de brincadeiras a que eles estão acostumados. Foram criados num mundo de violência, onde para se fazerem respeitar têm de insultar e mostrar má cara aos outros."
Perante os problemas do bairro, a nova equipa de professores optou por apostar na cidadania, para só depois se preocupar com os resultados escolares. O que originou situações como a do ano passado, onde entre 20 alunos do 9.º ano, apenas um conseguiu ter nota positiva no exame final. "Mas não podemos esperar bons resultados enquanto não alterarmos o contexto social onde os alunos vivem", defende o presidente do conselho executivo, que garantiu ao DN que "os próprios alunos descrevem o sujo das ruas, os tiros, num bairro onde crianças ficam amarradas em casa enquanto os pais vão trabalhar, sem poderem andar em creches".
Para inverter a situação, o modelo educativo do Agrupamento de Escolas de Apelação assenta na procura de ajudas do Estado e de instituições sociais, na inclusão de toda a população do bairro no processo educativo - o que leva os adultos a procurar cada vez mais os cursos de alfabetização - e a formação dos pais para a higiene e acompanhamento da vida escolar dos filhos.
"O nosso modelo de intervenção individual pretende ir ao encontro dos alunos, resolver os problemas deles, com o recurso a psicólogos e assistentes sociais. E tentamos que eles sonhem, o que nos levou a criar uma viagem a um parque temático para todos os que acabem o 9.º ano, um incentivo para os que ficam." Até porque, em resumo, "na filosofia aqui implantada, cada problema é visto como uma oportunidade para se encontrar uma solução".
Diário de Notícias
Sem comentários:
Enviar um comentário