A toxicodependência suprime faltas, nomeadamente de laços afectivos. Por isso mesmo, as drogas são um lugar de refúgio, de suspensão de angústias, onde se sobrevive, onde se desencadeiam pequenos gozos de intensidades que atenuam profundas ausências. Os laços de dependência dos jovens em relação às drogas deveriam ser entendidos pelos pais desses jovens como laços de aceno para que lhes prestem mais atenção (...) os laços de dependência em relação às drogas entrelaçam-se com outros laços, laços quebrados, de afectos familiares desatados, afectos que os jovens gostariam de ver presentes. O jovem abandonado (desenlaçado) inverte então papéis: ao ligar-se à droga, ao abandonar-se nela, passa a ser ele o protagonista do abandono - desprezando a família que eventualmente o despreza...
José Machado Pais, in Ganchos, Tachos e Biscates. Jovens, Trabalho e Futuro
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