12 agosto 2007

Homenagem a Miguel Torga - Centenário do seu nascimento






«Pseudónimo literário do médico Adolfo Correia da Rocha, Miguel Torga nasceu em S. Martinho da Anta (concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes), em 12 de Agosto de 1907. Em 1925, matriculou-se na Universidade de Coimbra onde se formou em Medicina e se especializou em otorrinolaringologia. Radicado em Coimbra, Miguel Torga iniciou a sua carreira literária em 1928 com o livro de poesia Ansiedade. De início, literariamente, associou-se ao grupo Presença mas veio a afastar-se cerca de 1930. Apesar de ter participado na fundação das revistas Sinal e Manifesto, Torga acabou por se desligar de qualquer grupo literário, de modismos estéticos e de filiações ideológicas.
O pseudónimo Miguel Torga anuncia-se com A Terceira Voz, mas só aparece definitivamente com O Outro livro de Job. Miguel acontece como homenagem ao grande escritor espanhol Miguel de Unamuno; Torga permite a ligação à terra natal, pois é o nome de um arbustro abundante em Trás-os-Montes.
A partir de 1941, foram sendo publicados sucessivos volumes do Diário, que contêm as suas reflexões sobre os mais diversos acontecimentos do quotidiano e que demonstram, inequivocamente, uma reflexão madura e uma análise singular.
Morreu em Coimbra, em 1995.
A poesia de Miguel Torga apresenta três grandes linhas de rumo: um "desespero humanista", uma problemática religiosa e um sentimento telúrico. A revolta e o inconformismo são, frequentemente, tradutores desse desespero humanista que resulta de um desespero religioso mais profundo e que coloca em permanente conflito entre o divino e o terreno.»
Além de Poesia publicou obras de Ficção, Viagens, Autobiografia e Teatro.


O poema que aqui deixo, tem um título de um sítio transmontano, do concelho da Régua, com vista sobre o rio Douro, que muito inspirou Torga e que revela esse sentimento telúrico de apego/ligação à terra. Sítio esse onde há uns anos tive o prazer de estar e ouvir recitados alguns poemas de Miguel Torga.



S. Leonardo da Galafura


À proa de um navio de penedos,
A navegar de um doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.

Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Razos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

Miguel Torga, Diário IX

1 comentário:

Anónimo disse...

Helena, Nao percebo porque tanto dizes "Detesto médicos". Afinal ate gostas do miguel torga, do luis filipe menezes, ja para nao falar daquele outro medico :-) lol

Arquivo do blogue