05 agosto 2007

Transformação identitária de 5 cidades portuguesas (V) - Porto




A cidade Invicta


A característica mais marcante das monografias históricas do Porto é o cruzamento constante entre a história da cidade e a história de Portugal. É esta interacção incontornável que se constitui como a base mais sólida da formação de imagens da cidade. Mais do que ser representada como cidade histórica, o Porto é visto e dá-se a ver como uma cidade portuguesa, como a "capital" de um determinado Portugal: "o Porto é uma Nação".

Na dimensão lendária da sua identidade foi o Porto que deu o nome a Portugal. "Os portuenses orgulham-se da sua história, de terem participado activamente na conquista da independência do Condado Portucalense. (..) Na sua qualidade de "sempre leal", o Porto aparece como o representante fiel das causas lusitanas (...) A imagem de portugalidade que o Porto difunde tem características específicas que são consideradas traços identitários da cidade.

O Porto é conhecido por ser uma cidade liberal e progressista, já que foi aí "que deflagrou a revolução de 1820 - que implantou o regime liberal em Portugal - a revolução de 1828 - que tentou em vão impedir o regresso do absolutismo - e, finalmente, que lá eclodiu em 1891, a primeira revolta republicana." Esta imagem de cidade guerreira e resistente marca o destino histórico da cidade que ganha também, a partir dos anos 60, a reputação de cidade contestatária do centralismo de Lisboa. (...) Esta imagem de cidade contestatária, reforçada em anos mais recentes, tem vindo a ser apresentada como um elemento emblemático não só da cidade mas de uma região que tem na "Invicta" o seu centro gravitacional e que leva o Porto a procurar fazer justiça à sua fama de "Capital do Norte".
Noutra vertente representacional, o Porto é conhecido como "Cidade do trabalho", a "Manchester portuguesa", numa alusão metafórica à cidade industrial inglesa. Esta imagem de cidade dinâmica e laboriosa é muito antiga e acompanha o desenvolvimento da cidade. (...) "O Porto foi e é uma cidade industrial cheia de iniciativas que muito tem contribuído para o desenvolvimento progressivo do país." As explicações para este dinamismo definem um outro traço identitário da cidade. (...) Para além das características paisagísticas e monumentais, que, no Porto como noutras cidades, constituem traços identitários da cidade, a identidade da "Cidade Invicta" é definida pelo próprio carácter empreendedor dos seus habitantes.
O portuense não é só o habitante do Porto. Em discursos que promovem uma interpretação mítica da identidade da cidade, o portuense, o "tripeiro", com as suas idiossincrasias, o sotaque, o calão, o bairrismo, a hospitalidade, um carácter tão frontal quanto honesto, é supostamente reconhecido onde quer que esteja. (...) é de tal maneira um traço identitário do Porto que é impossível imaginar uma outra gente a viver nesta cidade. (...) cria raízes uma marca e um carácter singulares e próprios dominados por sentimentos intensos de identificação, que torna "o Porto uma Nação".
" O Porto é uma cidade de identidades, dá-se bem com a espessura da história, imprime a sua marca a todos (...) integra com facilidade os recém-chegados e os transforma em portuenses (...)"
Sendo o portuense um traço identitário da cidade, esta imposição de uma marca colectiva espessa, remete potenciais personagens históricas para um segundo plano no domínio das representações da cidade veiculadas pelas monografias. O Porto transmite a vários níveis uma imagem de "Cidade popular", desde as Festas de S. João (um dos seus símbolos mais reconhecidos) aos discursos dos "bairristas", que parece ser avessa à afirmação de grandes figuras históricas. (...) " Os símbolos da cidade são o barco rabelo, a barroca Torre dos Clérigos e as pontes metálicas centenárias". O Palácio de Cristal, por representar "o esforço, o amor e o carinho com que os portuenses iniciam e impulsionam as suas empresas", é também, sobretudo até à década de 50, um dos principais símbolos dessa cidade empreendedora, industrial e trabalhadora.
Símbolo incontornável do Porto é, sem dúvida, o Douro. A ele estão ligados, física e simbolicamente, alguns dos símbolos mais importantes da cidade: as pontes, a Ribeira, o barco rabelo e o vinho do Porto.
O vinho do Porto, símbolo de uma região, é também símbolo de uma imagem internacional da cidade. Faz também parte de uma imagem gastronómica, juntamente com as tripas, que o Porto difunde desde há muito.
IV Congresso Português de Sociologia

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