15 junho 2007

Os novos crimes - Os crimes da moda

Primeiro vem a surpresa, depois a admiração, depois a cópia. O mundo do crime funciona assim: alguém inventa um golpe novo e ele depois espalha-se pelo país. Um assalto bem sucedido torna-se um modelo a seguir. A moda aparece assim.

A criminalidade evoluiu, está mais sofisticada. (...) Não só pela evolução dos métodos, mas principalmente pela capacidade de organização que é agora muito superior. (...) Os marginais inventam crimes por duas razões: para ganharem prestígio junto dos outros, mas acima de tudo para baralhar a polícia, que perante crimes novos reage com mais lentidão.
Fernando Negrão, juiz

De facto, os modelos do crime e do perfil do criminoso têm vindo a alterar-se. Estamos perante novos crimes. Vejamos alguns exemplos:
O bando dos restaurantes
O criminoso: bandos de jovens armados e pouco organizados
O alvo: restaurantes para classe alta e média-alta
Os clientes são apanhados à mesa e não têm como escapar: a porta está vigiada e os telemóveis são destruídos para que não haja comunicação com o exterior. Têm de entregar tudo.
Os assaltos a restaurantes tiveram uma mudança importante. Antes eram executados quando estavam fechados e tinham como alvo o dinheiro acumulado na caixa. Hoje, como sabem que muita gente paga com cartão de crédito, escolhem uma hora em que encontrem muitos clientes para poderem levar os seus bens pessoais.
Perigo nos carros (carjacking)
O criminoso: bandos armados e bem organizados
O alvo: condutores de carros de gama alta
Os ditos criminosos andam de pistola, apontam a arma ao condutor e tiram-no do carro em menos de um segundo. Arrancam e desparecem. Este tipo de assaltos tem aumentado bruscamente porque actualmente os carros têm alarmes e meios de protecção cada vez mais sofisticados o que torna praticamente impossível roubar quando se encontram estacionados. Daí a única maneira de os levar é atacar quando os detentores do veículo se encontram lá dentro ameaçando-os com armas e obrigando-os a saír.
Os carros roubados destinam-se, maioritariamente, às elites de outros países ou então são desmantelados e vendidos por peças.
Normalmente este tipo de crime ocorre nas auoto-estrados ou vias rapidas, mas também já chegou às cidades onde as abordagens são cada vez mais violentas.
Golpadas
É um dos crimes mais frequentes em Portugal e está sempre a mudar. Todos os dias são inventadas novas formas de vigarizar alguém. A única maneira de não caír nas armadilhas é conhecê-las.
Vestem-se convenientemente, arranjam histórias mirabulosas e convincentes e iludem os seus alvos tirando-lhes avultadas quantias de dinheiro.
"Guangue das perucas"
O crimonoso: trata-se de um grupo bem organizado que faz os assaltos com grande calma e eficiência
O alvo: cofres dos bancos levando montantes elevados
Estes crimonosos esperam o tempo que for necessário para obterem o recheio dos cofres mantendo, entretanto, clientes e funcionários na mira das pistolas.
O retrato dos típicos assaltantes em nada tem a ver com o perfil deste guangue. O afastamento em relação ao perfil habitual dos ladrões de bancos reflecte-se, desde logo, na composição. O " gangue das perucas" será formado por cinco ou mais indivíduos, o que contraria a tendência de que a maior parte dos roubos são cometidos por "solitários" ou por dois indivíduos no máximo, que prendem a obtenção rápida do dinheiro e que em média não ficam mais do que dois a três minutos no banco. Nestes casos os montantes roubados são reduzidos e destiandos à aquisição de droga ou pagamento de dívidas. Já o grupo que tem atacado(...) só se "contenta" com montantes elevados (...) revela uma frieza impressionante, dando a entender que preparou tudo ao pormenor. As funções de cada um dos membros são bem definidas.
Jornal de Notícias, 2 de Junho de 2007
Este guangue tem ainda o cuidado de não deixar vestígios. Não deixa impressões digitais e usa sprays para tapar as câmaras de vigilância.
O surgimento destes guangues tem levado a um número significativo de assaltos a bancos. Tem-se tornado, obviamente, num fenómeno preocupante dado ser susceptível a possíveis imitações.
É urgente um combate e prevenção criminal eficaz com vista a diminuir o número de crimes. Para que não entrem num processo de imitação. E para que não se tornem, de facto, numa moda...

2 comentários:

Anónimo disse...

Portugal é hoje um país moderno, um país da UE, plenamente integrado num mundo globalizado, onde a Tv. e a Internet dão acesso à informação de uma forma rápida e eficaz.
É sinal dos tempos, e dos países modernos, uma criminalidade forte e, cada vez mais organizada, são os vícios e os sinais da modernidade e da urbanização.
Um combate eficaz da criminalidade passa por uma polícia bem equipada, bem formada e em constante processo de actualização e formação profissional.
É fundamental equipar a polícia portuguesa da melhor forma, quer material quer humana. Não podemos dizer, pois estaríamos a mentir, que a polícia portuguesa não tem bom material humano, apenas e só esta qualidade não é acompanhada pelos meios ao seu dispor. É impossível ter uma polícia eficiente se não lhe conceder-mos os meios necessários. As nossas polícias podem são um instrumento fundamental para combater o crime, mas o poder judicial tem que suportar esse instrumento, sob pena de desmotivar essas forças policiais.
É inútil pensar em aumentar as penas, ou de as tornar mais severas, porque a solução passa por tornar acelerar os processos, não os deixar correr durante anos e anos a fio. Aumentar estas penas ou torná-las mais severas não é a solução, como o prova a experiência de outros países: os EUA são o país mais "evoluído" do mundo, ou pelo menos um dos mais avançados do mundo, e, em muitos dos seus estados há pena de morte e prisão perpétua, porém, é também o país em que as taxas de criminalidade são as mais altas.
Ou seja, a solução para a criminalidade não passa por aumentar as penas ou torna-las mais severas, mas sim por conceder as autoridades, policiais e judiciais mais instrumentos que permitam resolver mais, e de forma melhor as situações criminais.

Helena Antunes disse...

Rui,
a meu ver o combate à criminalidade não passa por tornar as penas mais severas e pesadas,nem pelo melhoramento material e humano da massa policial, pelo menos numa primeira instância.
Primeiramente, o que teria de ser mudado é a forma da actuação da justiça portuguesa. A justiça portuguesa actua tardiamente e ineficazmente. Funciona sobre os seus próprios interesses. A justiça portuguesa funciona por base na corrupção.
Temos juizes que nao actuam eficazmente perante a lei, penduram processos, atrasam a resolução de muitos mais.
Temos advogados que, juntamente com dirigentes desportivos sao, a meu ver, os maiores corruptos deste país.
Não temos uma justiça que actue verdadeiramente com justiça e eficácia. Quando assim é como poderão os agentes policiais actuar devidamente? Onde está o incentivo? Prender um tipo que comete um crime e que o juiz decreta liberdade? Enfim...

E, mais importante, tem que se apostar na investigação criminal, isto é, apostar na prevenção do crime. Só que infelizmente nesta área ainda se aposta muito em licenciados em direito, e eu pergunto porquê? Se eles estudam as leis e codigo penal a sua actuação é apos-crime.
A meu ver devia-se apostar mais em profissionais como educadores, sociologos e psicologos para este tipo de trabalho. Já se tem vindo a requisitar mais estes profissionais para esta funçao, mas há ainda muito a fazer.

Arquivo do blogue