A homossexualidade continua a apresentar-se como uma tabu na sociedade actual e, não raro, os homossexuais (refiro-me a indivíduos do sexo masculino como do sexo feminino) continuarem injustamente a serem vítimas de discriminação social e, por vezes, remetidos à completa exclusão social e sobretudo laboral.
Este é um tema que tem gerado debates e as opiniões são muitas e diversificadas, cada um tendo a sua opinião mais ou menos formada. De um modo geral, os homossexuais continuam a culpar a sociedade de ser discriminatória para com eles e de aí residir o principal obstáculo para a sua completa aceitação social. A população em geral partilha maioritariamente da opinião de que a sociedade portuguesa discrimina os homessuxuais impossibilitando que eles vivam dignamente em comunidade como qualquer indivíduo heterossexual.
A minha opinião é, em parte, oposta. A meu ver a aceitação social dos homossexuais e sua integração social, e posteriormente laboral, tem que partir deles próprios. Se eles próprios têm vergonha de o serem, se se auto-discriminam, se não revelam que o são, como estão à espera que os aceitem?
Recordo aqui uma aula prática da disciplina de Sociologia da Solidariedade e Exclusão Social em que debatiamos precisamente o tema da hossexualidade. Enquanto toda a gente defendia a ideia de que a sociedade é discrimatória relativamente aos homossexuais, enquanto todos meus colegas afirmavam que era a sociedade que tinha a mudar a sua mentalidade, lá saíu a Helena a falar com uma opinião diferente de toda a gente. E eu questionei os meus colegas "Mas afinal quem é a sociedade? Não somos todos nós, heterossexuais e também os homossexuais? Ou a sociedade é somente os primeiros, cabendo a estes mudar e aos segundos não?" Se a sociedade somos todos, heterossexuais e homossexuais, todos têm de mudar as mentalidades e assumir a diferença. E eu acrescentei "Se os próprios homossexuais não admitem que o são, se escondem as sua opções de vida, se se envergonham de o serem, como estão à espera de cobrar da sociedade essa aceitação? Não podem estar à espera que a sociedade diga «Venham os homossexuais que nós aceitamos.» Sei que as minhas palavras podem ter sido repletas de algum desconhecimento da vida homossexual, que porventura até possam ter sido vulgares, mas é assim que eu penso. Se não lutamos pelos nossos ideias de vida, se não fazemos valer os nossos gostos e opções, quem os fará por nós?
Os meus colegas, todos contra a minha opinião, retribuiam-me com o seguinte: "Sabias, Helena, que muitos dos homossexuais apenas não revelam o serem porque já sabem que vão ser excluidos de muitos postos de trabalho, vão ser olhados de lado pela sociedade e postos à margem..." E eu lá insistia "Acredito que de facto seja difícil para eles/elas arranjarem um trabalho, mantê-lo sem que sintam que são vistos como "diferentes", mas se eles não lutam por aquilo que sentem e querem não conseguirão ser aceites pela sociedade." E eu voltava ao mesmo "Não vai ser a sociedade a dizer «Venham os homossexuais que a gente aceita-os», se eles próprios não se assumem como tal e não lutam pela igualdade de oportunidades e por fazer valer os seus direitos." Enfim...foi um dos debates mais acessos das aulas práticas de Solidariedade e Exclusão Social.
Contudo, e sendo realistas, a verdade é que cabe também à sociedade mudar a sua mentalidade discriminatória relativamente a este grupo de população. Isto para dizer que os homossexuais continuam a ser estereotipados como grupos de risco, o que é de todo falso. Continuam a ser percepcionados como aqueles indivíduos mais sujeitos a comportamentos de risco como a contracção do vírus do HIV/SIDA, que estão mais susceptíveis de contrair outras doenças infecto-contagiosas, nomeadamente as IST(infecções sexualmente transmissíveis). Enfim são injustamente vistos como contaminadores da saúde pública. E é aqui que a dita sociedade tem a mudar.
De resto, penso que os homossexuais têm um papel importante a assumir para a sua aceitação social e posterior integração social. E a nível laboral ,onde infelizmente assistimos a uma elevada discriminação, eles têm de se valorizar e fazer valer os seus direitos.
E, outro aspecto que me provoca alguma confusão e que tem sido constantemente reclamada pelos homossexuais, é a adopção de crianças por parte destes casais. Aí eu própria sou da opinião de que isso não deveria ser permitido a curto prazo. Enquanto a homossexualidade não for aceite por grande parte da nossa sociedade, enquanto não se aceitar a vida em comum de indivíduos do mesmo sexo, e enquanto estes não se assumirem e aceitarem como tal, não me parece que a adopção seja beneficamente fiável. Não esqueçamos que vivemos numa sociedade onde as famílias são maioritariamente do tipo "nuclear-conjugal", ou seja, constituída pela mãe, o pai, e o(s) filho(s). As crianças adoptadas por homossexuais não sentiriam provavelmente que estivessem a viver num"normal" ambiente familiar. Muito terá de se mudar a nível de mentalidades e perspectivas de vida.
Todavia, e felizmente, já temos vindo a assitir a alguns avanços nesta área com pessoas homossexuais a darem o seu testemunho e a lutarem por aquilo que acreditam E assim terá de ser!
6 comentários:
Bem, realmente o tema da homossexualidade é bastante discutido nos dias que correm.. O que é bom! Todavia, o cerne da discussão centra-se muito na aceitação ou não desse fenomeno.. Essa aceitação, está a ter grandes dificuldades em se impor no nosso pais, mas é algo comum a muitos outros estados membros da UE e do resto do mundo.. Concordo consigo, quando refere que, tem de partir dos homossexuais a saida do "ovo", a que estão sujeitos.. Porém, a realidade nacional, não permite tal acontecimento, para ja! O "ovo" a que estão sujeitos, esta coberto ainda por uma "casca" social que os impede de o partir.. Não generalizando muito, e tentando não cair no erro de me pronunciar por tal fenomeno sem qualquer estudo por de tras, penso que em Portugal o fenomeno da homossexualidade peca muito pelo esclarecimento. Ou seja, não descriminando ninguem, é certo e sabido, que o interior do pais tem diferenças em relação ao litoral. Diferenças essas, que abrangem muitos niveis, entre os quais: sociais, politicos e economicos e religiosos etc.. O interior mais "pobre" condena certos fenomenos, em detrimento de uma aparente aceitação nas zonas das metropoles (litoral). Todavia, não é tanto assim!! O interior mais "pobre" é rico em religiosidade, na crença pelos valores espirituais e religiosos portanto, o que em certa medida, conjuntamente com factores atras mencionados, moldam as mentes individuais de cada um. De referir, a completa negação da Igreja Católica ao fenomeno da homossexualidade. Contudo, gostaria imenso de efectuar um estudo ou de estudar estudos já existentes sobre o tema no caso particular do nosso pais. Mas penso, e não tenho conhecimento de tal feito.. Gostaria de rematar, dizendo que, a caixinha mágica, em muito esta a contribuir, na minha opinião, sobre a percepção dos cidadãos nacionais no tema da homossexualidade. Eu explico, tenho conhecimento de diversos espaços de entretenimento, nomeadamente novelas, em que a utilização de personagens, actores homossexuais é uma realidade cada vez mais frequente. Ora, se as diversas classes existentes em Portugal , visualizam tais programas, "forçosamente" "enchem os olhos" com cenas em que tais personagens entram. Isto significa, mudança na forma em como encaram o "problema". Pouco a pouco, conhecem uma realidade à qual naõ estariam certamente ligados. Pode não ser mjuito, mas a mudança esta em marcha!! Agora, não queiram, ser "aceites" assim tão rapidamente num país com profundas ligações religiosas. Se é a própria igreja a condenar!! Ou seja, tenham calma, e até lá não escondam o vosso ser. São seres humanos, não são diferentes de outros sres humanos, não há diferenças biologicas!! Somos todos iguais!!! Mas não tenham vergonha de se assumirem! Maior vergonha passam aqueles que gozam ou repudiam ate, as vossas condições!! Acreditem! Não sou nenhum Martin Luther king e não vos vou prometer um lugar onde todos possam ser felizes, no imediato, mas um dia tudo vai mudar. O mundo é cheio de mudanças, vivemos disso, são elas que nos fazem andar pra frente!! Caso contrario, parariamos. É dificil a luta, doi, mas os proveitos serão grandiosos!
Acreditem em vocês pessoas!! Sejam vocês mesmos!! E está dado o primeiro passo para a mudança!!
P.S: Cara Helena, fez bem em ter apagado os comentários. Eram ataques pessoais. Não tolero!! Existem pessoas com frustração suficiente para tais atitudes sem escrupulos. Porque, essas sim, estão mal com a vida que levam, sentem-se frustradas!! Não lhes ligue!! Ainda por cima, não tem coragem para publicar os seus nomes a subscreverem as suas opiniões. Enfim, logo à partida, não se deve dar muita importância.
Continue o bom trabalho!! Todavia, siga sempre os valores sociologicos que aprendeu e muito bem em contexto académico, penso. Seja concisa e profissional. Juizos de valor, muitas vezes são encarados como armas que ferem obras, trabalhos, estudos..
Cordiais Saudações, Helena
Caro Teixeira Campos, gostei muito desta sua análise. Muito pertinente e correcta, fez uma abordagem muito real daquilo que se passa no nosso país.
Agradeço também as suas palavras de elogio ao meu trabalho. Motiva-me saber que há pessoas que gostam do que por aqui se vai falando e discutindo neste blog.
E esteja à vontade para para continuar a participar neste espaço.
Cumprimentos.
Não era meu propósito voltar a comentar o assunto, mas não fui capaz de deixar de o fazer.
Antes de mais, fico contente que um blog de Vila das Aves tenha tantos visitantes (a julgar pelos comentários). Confesso que só o conheci depois da referência que a ele lhe foi feita no jornal local.
Sobre o assunto em causa, já manifestei a minha relativa discordância no primeiro post aqui deixado, a propósito do “polémico” Estudo Curioso. Era o “Anónimo”.
Sobre o que escreve Teixeira Campos, gostava de referir que, a aceitação que de nós (eu e dos milhares de gays deste país) é feita resulta de um processo onde intervêm muitos factores. A luta que as comunidades gays levam a cabo e a visibilidade que daí resulta, ajudam naturalmente. Mas contínuo a achar que não deveria ser necessário assumir-se nem um único homossexual, para que se acabasse com todas as formas discriminações.
Os governos, o Estado, por si só, não acaba com coisa nenhuma, muito menos com as discriminações, mas tem a obrigação de legislar (e não só através da legislação) nesse sentido.
Mais ainda o Estado português que é dos poucos no mundo a proibir, na sua constituição, a discriminação baseada na orientação sexual. E neste âmbito, não importa apenas legislar no sentido dos homossexuais poderem aceder ao casamento (gostaria imenso de poder dizer ‘eu não quero casar’, mas para já o Estado apenas permite que eu diga ‘eu não posso casar’) mas também através das suas políticas educacionais, por exemplo.
Duas últimas notas: sei bem do peso que a Igreja continua a ter na sociedade portuguesa, mas isso não me impede de achar inadmissível que, de cada vez que se discuta os casamentos gays, por exemplo, “lá venha o senhor padre dizer de sua justiça”. Que me desculpem os padres deste país, e tenho-lhes muita consideração, mas este assunto que não lhes diz respeito. Estamos a falar do casamento civil, não religioso (nesse, eles que digam o que têm a dizer) e que, eu saiba, os padres ainda não podem casar, nem com homens nem com mulheres.
Segunda nota, e já que foi referida a televisão. Reportemo-nos ao exemplo mais notório, o de um novela portuguesa, transmitida na TVI (e de que agora não me recordo o título), cujo argumentista ganhou o prémio Arco-íris, da Associação ILGA (que este ano premiou Pinto Balsemão): o retrato que ali é feito do homossexual não corresponde à realidade. Estamos perante um jovem de Lisboa, que vive atormentado com a sua identidade homossexual. Ainda se fosse do campo, admitira que sim. Actualmente, um jovem com a sua idade, de Lisboa – que fosse do Porto, Braga ou até mesmo de Vila das Aves - , no mínimo estaria gozar a sua sexualidade sem sombra de pecado, ainda que pudesse, perante os familiar, não assumir essa orientação.
Saudações aos dois
Caro Anónimo, os seus comentários revelam-se também do maior interesse e é bom que mantenhamos este debate.
Que fique claro que nada tenho contra os homossexuais. Aliás, penso que é essa diferença (se é que podemos falar em tal) que traz riqueza de ideias e perspectivas à sociedade. Apenas sou da opinião de que tem que partir essencialmente deles o esforço pela aceitação começando por assumirem-se.
Mas estou de acordo consigo quando diz que o Estado devia legislar a orientação sexual. Mas em Portugal o Estado ainda se baseia um pouco na religião, não me parece que seja tão laico como diz ser.
Obrigada pelas palavras de elogio a este blog e esteja à vontade para comentar sempre que quiser.
Abraço.
Presumo que tenha sido uma distracção sua, mas para o caso, aqui vai, não o "Estado não deve ligislar a orientação sexual" até porque isso seria impossivel, o que defendo é acabar com as formas de discriminação baseadas na orientação sexual (e não só).
Nunca me passou pela cabeça que tivesse alguma coisa contra os homossexuais, nada disso. E se o tivesse, era um direito seu!
E quanto ao estado laico, ele ser, é, de facto, só que raramente o pratica. E isso vê-se em todo o lado: imagine uma inauguração qualquer neste concelho, o padre está lá sempre para "benzer a obra". Só ficaria bem aos padres recusarem-se a esse papel, mas isso, seria pedir muito. Pena é que os nosso políticos não os dispensem, pois... precisam de votos!
Não está ao alcance do Estado ou qualquer outra entidade a eliminação por completo de todas as formas de discriminação baseadas na orientação sexual, assim como de qualquer outro tipo de discriminação. Isso é de todo impossível.
O que o Estado pode e DEVE FAZER é implementar medidas e leis que visem a diminuição de qualquer forma de discriminação, seja ela sexual, racial, étnica, de género, etc.
Essa do padre benzer as obras que se fazem no nosso concelho também desafia a minha consciência!
Amanhã lá teremos mais uma inauguração, a do novo cemitério, com o senhor padre presente!
Cumprimentos.
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