"Muito sistematizada", Eliana Souto poderia ter sido física. Ou matemática. Escolheu Farmácia. Em nome da ciência - e de uma pesquisa pouco conhecida em Portugal - rumou à Alemanha. Cinco anos bastaram para diluir as fronteiras de Santo Tirso, terra natal, onde regressa após cada dia de trabalho na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, com o Mundo.
Colabora com investigações em Banguequoque (Tailândia), Copenhaga (Dinamarca) e Turim (Itália). Além de Berlim, onde iniciou um trabalho sobre o aumento da eficácia de medicamentos para tratamento de doenças da pele que lhe rendeu, o mês passado, os 20 mil euros do Prémio Mulheres na Ciência, da UNESCO. E, se dúvidas houvesse, um currículo de 11 páginas, onde a data de nascimento aponta para 31 anos de vida, atestaria a capacidade de trabalho da cientista.
A nanotecnologia, que "foi surgindo por força das circunstâncias", fruto da especialização que as ciências sempre exigem, levou--a ao local da Europa onde a investigação já é consistente. Orientada pelo alemão Rainer Müller, fez o doutoramento em Nanotecnologia, Biofarmácia e Biotecnologia Farmacêutica - Eliana é a primeira doutorada portuguesa na especialidade -, donde resultou a pesquisa sobre nanopartículas de lípidos sólidos, um trabalho (ler caixa) ainda com dois anos no horizonte e um objectivo firme "desenvolver um sistema até uma fase pré-industrial". Em Outubro de 2006, foi lançado o primeiro cosmético elaborado com aquela tecnologia. A investigadora sorri de puro orgulho: o creme anti-envelhecimento está à venda como "consequência do [seu] trabalho com Müller". "O mais difícil é avançar para o mercado farmacêutico".
Duas equipas em Portugal
Eliana contabiliza apenas duas equipas a trabalhar no projecto em Portugal, com as quais colabora. Uma no Norte, fruto da parceria entre as universidades Fernando Pessoa e do Porto; e outra em Lisboa.
Houve propostas para fazer carreira na Alemanha, onde trabalhou quatro anos. Contudo, o desafio nacional foi mais forte. A família também "pesou", mas não foi decisiva no regresso planeado com o objectivo de fazer carreira académica em solo português. "Acho que, agora, o meu papel é qualificar o corpo docente e os recursos humanos em Portugal". Entretanto, "adia-se" um projecto de família e maternidade. "Depois de acabar o curso, a altura de se lançar como investigadora coincide com a melhor época para se ser mãe".
Jornal de Notícias
Sem comentários:
Enviar um comentário