"Muito do que ficará serão imagens, porque este tempo é um tempo de imagens."
Embora eu não saiba o contexto do assunto em que a frase está inserida, a frase por si só leva-me a concordar com este senhor.
Se antes a comunicação era feita através da palavra e presentemente, agora o objecto é a imagem e a transmissão de imagens.
No que concerne à política associada à imagem, surgem dois efeitos:
- Realça-se o carácter teatral do poder, tudo é encenação na vida política. Os agentes têm cada vez mais espaço e menos bastidores. Com esta capacidade de captação de imagem os políticos são-no em "full-time", estão sempre em cena, não há tanto bastidores. Mesmo a vida privada dos políticos, e outras figuras públicas, é controlada e vigiada.
- A política acaba por tornar-se numa avalanche de imagens. Tudo é visto e mostrado. Em nome da transparência há cada vez mais exigência que assim seja e a imagem toma o lugar da palavra. Na vida política, a argumentação e a reflexão tendem a ser substituídas por efeitos especiais e a vida política torna-se uma sucessão de imagens.
O que faz a vida política é menos marcado pela agenda do parlamento e mais marcado pela agenda que os meios de comunicação social definem. Tal acaba por originar uma banalização do processo democrático levando ao desinteresse perante certos factos. Esta avalanche de imagens permanente, esta inflacção de imagens e notícias acaba por ser contraproducente para a democracia por conduz à saturação e à indiferença.
Temos hoje, em lugar do cidadão, o telespectador. O telespectador cansado por saber que é dada voz sempre às mesmas pessoas, cansado por perceber a relação entre o poder e os meios de comunicação.
Antigamente, a realidade era aquilo que se passava na nossa aldeia. Hoje chega-nos a realidade de todo o mundo, há um eco da realidade. Chega-nos a tele-realidade dada pelos meios de comunicação.
Aquilo que os meios de comunicação difundem é que é considerada a realidade. Porque quando vemos uma imagem temos dificuldade em rebatê-la, considerá-la falsa, porque estamos a ver essa imagem à nossa frente. As imagens fazem a nossa realidade, é difícil impormo-nos a uma imagem porque ela tem um grande poder de persuasão.
O antropólogo e sociólogo, G. Balandier diz-nos:
O mundo reduz-se cada vez mais ao seu próprio espectáculo que a teletemática começa a transmitir. O poder dispõe de meios permanentes e de uma força já mais atingida anteriormente de elaborar a sua própria formação. O Homem deste fim de século (século XX) tem menos acesso a uma realidade do que a uma tele-realidade.
1 comentário:
Concordo na íntegra com tudo o que aqui foi dito. Boa visão da sociedade actual: o poder que as imagens adquirem na mente das pessoas.
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