23 setembro 2007

Temas da actualidade (II) - Racismo e Xenofobia

O tema do racismo e xenofobia está na ordem do dia, quer em termos internacionais designadamente na Europa, quer em Portugal no que concerne a minorias étnicas como ciganos, imigrantes e até judeus. O racismo e a xenofobia têm-se agravado, sobretudo nas últimas décadas, apresentando-se como um problema persistente em diversos países europeus, ao ponto dos seus Governos estarem a prestar uma atenção especial através de subsídio de projectos de investigação e, sobretudo, tomando diversas medidas políticas e legislativas a este respeito.

Podemos assim distinguir dois tipos de racismo:
- o racismo biológico
- o racismo étnico-cultural (este mais designado por xenofobia)

O racismo biológico procura acentar a sua pseudoteoria no conceito de raça, enquanto conjunto de características físicas herdadas (cor do cabelo, pele) e outras crenças raciais que, sendo consideradas etnicamente relevantes, possuem geralmente um carácter mítico. De facto, os desenvolvimentos genéticos caminharam em diferentes linhas, demolindo assim as pretensas teorias das raças puras. Por isso, o tipo de racismo biológico, se bem que cada vez menos aduzido e aceite, constitui uma construção pseudocientífica a que aderiu um determinado número de pessoas.

O racismo cultural apresenta-se como um «racismo sem raça», um racismo «neonacionalista» e, não raro, etnocêntrico, procurando justificar as suas práticas de discriminação com a superioridade cultural ou a necessidade de defesa da própria cultura contra as ameaças «exteriores», sobretudo não americanas ou europeias.

Ambas as formas de racismo são coexistentes e reforçam-se mutuamente em diversos tempos e espaços. No entanto, se até à Segunda Guerra Mundial predominou o racismo colonial e biológico, a partir daí, e sobretudo a partir dos anos setenta, tem predominado o racismo cultural, já que os racistas cada vez menos se atrevem a legitimar-se em bases biológicas e cada vez mais se escudam no racismo institucional ou justificam o seu racismo em bases culturais ou o entendem como o modo de combater a ameaça dos fundamentalismos religiosos islâmicos e outros.

Manuel Carlos Silva


É com esta nova forma de racismo, com forte componete xenófoba, que hoje o mundo e, especialmente a Europa, se defronta.

O último relatório sobre racismo e xenofobia na União Europeia indica que cinco membros (Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Chipre) não disponibilizaram dados sobre delitos relacionados com actos de racismo em 2006, e que outros oito países comunicaram um aumento daqueles crimes entre 2005 e 2006 (França, Alemanha, Dinamarca, Irlanda, Polónia, Eslováquia, Finlândia e Reino Unido). "Persistem sinais preocupantes de maus-tratos pela polícia e pelas forças de segurança contra os imigrantes e pessoas que procuram asilo e o crescente racismo é uma praga social na Europa", diz o relatório.

Fonte: Jornal de Notícias de 2 de Setembro de 2007

6 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Trata neste post de um problema muito delicado, mas penso que nós portugueses não somos muito racistas, dada a nossa história colonial. Xenofobia talvez... um pouco.
Contudo, a classificação científica da xenofobia ainda não foi feita: é mais um termo descrito que urge pensar. Abraço

Anónimo disse...

São temas da maior importância e que detem uma amplitude internacional, dos mais discutidos e falados portanto. Se virmos bem, quando os portugueses chegaram a Africa, no sec XV, penso não ter havido atritos de ordem racial. A base das relações entre africanos e portugueses era o comércio. E naquela época, este passava muito pelo comércio de escravos.. Aceite na época.

Todavia, la para o sec XVII quando os os europeus começaram a colonizar em massa o continente africano, estes fizeram-no "hard way". Deste modo, em 1910 com a criação da União Sul-Africana, sob o dominio do Imperio Britanico, varias acçoes ocorreram e impuseram a sua vontade, atribuindo e adoptando argumentos e conferindo-lhes legitimidade e o porquê de tal acontecimento. Uma das maiores e mais polemicas justificações, prendeu-se basicamente pela categorização da raça negra como raça inferior. E usaram e abusaram desta discriminação racial para assegurar certos "direitos" dos europeus. O caso mais "famoso" desta situação foi o Apartheid na África do Sul, que durou ate meados da decada de 90 do seculo passado. Neste contexto e durante este periodo, as leis do apartheid foram ligitimadas pelo Estado.

(Foi apenas um mero aparte.. Esta situação mostra claramente a descriminação racial, muitos a viveram e sofreram. E outros, noutros contextos sociais e culturais, continuam a sofrer, são suas vitimas.)

Um beijinho Helena :)

Anónimo disse...

O racismo é algo que desde sempre afectou, e infelizmente continua a afectar as sociedades de todo o mundo.
Vivemos numa, suposta época de igualdade e de liberdade, mas que na realidade continua a manifestar os mesmos sentimentos de racismo de outros tempos. Séculos passaram, e por vezes parece que ainda está tudo na mesma.

Como, e muito bem, diz a nossa amiga Helena não há raças puras, desta forma permitam-me o seguinte esclarecimento: os biólogos consideram, geralmente, raça como um sinónimo de subespécie, caracterizada pela comprovada existência de linhagens distintas dentro das espécies, portanto, para a delimitação de subespécies ou raças a diferenciação genética é uma condição essencial, ainda que não suficiente. Na espécie Homo sapiens - Homem - não são reconhecidas cientificamente subespécies, portanto, partindo desta definição, não existem raças humanas.
Convêm no entanto clarificar também um conceito normalmente associado a racismo, a “etnia”, ou “etnicidade”: é a divisão da sociedade em grupos. Essa divisão é feita a partir da selecção de características comuns a um conjunto de pessoas que as diferenciem de outro. Por exemplo, temos a etnicidade indígena, negra, europeia. Não é uma divisão de raça. Fala-se sobre o conjunto de características sociais e antropológicas de cada um, que os une em determinados grupos, diferenciando-os de outros. Com esta definição podemos afirmar, claramente, que “etnicidade” tem a ver com valores e padrões culturais, que nada tem que ver com as questões biológicas com que muitas vezes a sociedade define “etnicidades” (ou “etnias”) diferentes das suas.

Depois dos esclarecimentos quanto aos conceitos vamos tentar encontrar as causas: a sociedade é a culpada! Socialmente julgamos as pessoas “diferentes” de nós, e passamos esses “ensinamentos” de geração em geração, e por muito que quem os recebe tenha os horizontes alargados, e consiga pensar nas coisas de forma diferente vai sempre viver com o mesmo “sentimento racista”, como reflexo do que se habituou a ouvir. Este “sentimento racista” manifesta-se de forma automática, através de manifestações espontâneas, que resultam muitas vezes em embaraço para quem as revela. O racismo está em todas as pessoas, em todas as sociedades e em todos os países, a grande diferença está na forma de o manifestar.

Para terminar queria só lembrar um facto que e perturba desde algum tempo atrás, e que parece passar ao lado de todas as pessoas, incluindo as que têm o poder de o tentar alterar, ou de alertar as sociedades para ela. Todos conhecemos o “Apartheid”, e celebramos o seu fim como uma vitória do mundo civilizado (que de facto me parece de todo legitimo). Há, porém um “Apartheid” a decorrer hoje, agora enquanto escrevo, e enquanto alguém lê o que eu estou a escrever, chama-se “Sistema de Castas” e vive-se na Índia, em pleno Século XXI, sem que ninguém diga seja o que for sobre ele. “Os intocáveis” são pessoas que nascem e morrem sem qualquer tipo de direitos, que trabalham e vivem em estado de escravatura.

Ninguém sabe, ninguém fala, porquê?

Helena Antunes disse...

Rui, muito importante o esclarecimento e definição que fizeste de etnização e etnias porque de facto muitas pessoas erradamente têm as etnias como divisão de diferentes raças, quando não tem nada a ver com isso.
Como muito bem disseste tem a ver com um conjuntso de características socias, culturais e de facto antroplógicas, entre outras, que identificam um determinado grupo e o diferencia dos outros grupos.

Liana Rego disse...

Eu sou apenas uma jovem adolescente, de raça branca que já se deita a pensar na trampa que é o racismo e a Xenofobia. Xenofobia é, no fundo, nada mais nada menos do que uma forma elegante de nos autoclassificar-mos como pessoas pouco informadas que têm ''fobia'' aos estrangeiros. E o racismo é algo repugnante, assim como o preconceito. Acharmo-nos superiores porque a nossa cor de pele é branca e a deles naao?? Mas em que século 'e que nos vivemos? Lamento imenso que este mundo se contente com tanta pobreza de espirito. Eu tenho 14 anos meus amigos, e ja consigo ver o quão desprezivel a situaçao do racismo se pode tornar. Eu vou fazer os possiveis, nem que seja apenas á minha volta, para defender os direitos de qualquer emigrante, qualquer inidividuo negro, ou qualquer homosexual etc
Sinceramente, nós, as pessoas normais e contra o racismo, temos algo a fazer. Sim porque aqui os anormais são os perconceituosos.
Atenciosamente, Liana Rego.
P.S - Criei um blog recentemente e talvez va abordar tema como este. Visitem quando puderem e deixem as vossas opiniões. Para já ainda nao tem nada, mas espero que lá para Setembro já tenha bom material. Agradeço (:

Liana Rego disse...

O link do blog é o seguinte:

http://thebloglianarego.blogspot.com

Enjoy : 'D

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