Para quem não conhece Vila da Aves no dia de hoje, seria cómico passarem por cá pela manhã e assitirem à missa que se realiza no cemitério local.
Apenas a partir do ano 2000 (ano que faleceu o meu avó materno) que eu comecei a ir à missa do Dia de Todos os Santos, antes nunca eu lá tinha ido. Nos dois últimos anos como não estava cá não me foi possível ir. Este ano lá estive outra vez e vi mais do mesmo. É mais confortável ir à missa à igreja, sentadinha e sossegadinha, ao invés de estar ali no cemitério uma imensidão de tempo ao sol ou à chuva. Temos um cemitério grande e bastante povoado por este dia. São inúmeras as pessoas de toda a vila e arredores que lá se deslocam para ir assistir à missa, pessoas de todos os estratos e classes sociais. Mas neste dia quase que se tornam indistinguíveis.
Em Vila das Aves, na missa de Todos os Santos parece-me que estamos perante um desfile de moda. As pessoas chegam ao cúmulo de comprarem roupa para este dia, irem ao cabeleireiro na véspera só para irem todas arranjadas para a missa de Todos os Santos. Não vejo qual é a diferença desta missa para aquela que se realiza todas as semanas na igreja, mas pronto. É certo, que os indivíduos se vestem consoante o contexto no qual vão estar inseridos, mas o que se passa no Dia de Todos os Santos é de extremo exagero. As mulheres todas dondocas, com a último casaco e saia da moda, maquilhagem em excesso que com um sopro lá se ía o pó todo da cara, outras não tanto assim mas não menos clássicas. As jovens de mini-saia e/ou decotes pensando que vão para ali para atraír os moços (o me primo, gajo compremetido lá foi deitando o olho a algumas). Os homens de fatinho e gravata é uma constante. Até os mocinhos da minha idade deixam de lado a calcinha de ganga e lá vão de fatinho de cerimónia.
A minha mãe ainda me dizia "Então, tu vais para o cemitério assistir à missa ou para ver como as pessoas vão vestidas?" Eu respondia: as duas coisas. Isto não é sinal de coscuvilhice, é sim aquilo que nós sociólogos chamamos "olhar sociológico". Uma análise e nada mais! Dizem que os sociólogos são os cuscos da sociedade, como queiram...
O luxo reveste-se não só na roupa como nas sepulturas. Rios de dinheiro se gastam na ordenamentação das campas, flores de todas as cores e tipos, arranjos luxuosos ao preço de ouro. Para a ostentação há sempre dinheiro, depois para as necessidades básicas nada de "guito".
Viva o luxo ostentado em Vila das Aves. Há dinheiro para roupas, cabeleireiro, sepulturas luxuosas e para comprar uma velinha para iluminar as almas dos falecidos não há. Pior, contribuir com uma moedinha para a Liga Portuguesa Contra o Cancro com pessoas junto às portas dos cemitérios também parece ninguém se mostrar disposto. As causas sociais não interessam, ajudar os doentes não interessa. O que interessa é a ostentação e luxo no cemitério, interessa é gastar dinheiro com a aparência visual. Já para não falar no dinheiro que as pessoas dão no ofertório da missa, que faziam muito mais jeito aos pobres e doentes do que à Igreja Católica. Hoje a minha avó quase ficou doente quando reparou que a menina do cesto passou sem ela ver e ela não pode amavelmente deixar o seu contributo. A minha tia disse-lhe: "Deixe lá, você em vez de dar dinheiro ao padre dê aos seus netos que eles precisam." A minha avó começou logo a resmungar. Enfim... Quando fiz anos nada me deu dizendo "Não tenho trocado para te dar" (trocado???). A mim não, mas para a Igreja tem.
Já para não falar nas lágrimas, que quase criam um lago, de muitas pessoas que para lá vão chorar. Caricato é saber que em vivos ninguém lhes dava o devido valor, agora depois de mortos há quem por eles chore lágrimas. Haja paciência...
Este ano não fui para lá fazer a minha análise sociológica do costume. Não me encontro no estado anímico mais propício para tal. Mas deu para perceber que a mesmice continua.
Devem estar a questionar: e tu Helena como foste vestida? Pois é, fui numa de "meter nojo". Calça de ganga elástica com botas por cima das calças, até ao joelho. Se o Sr. Melo (pai de um amigo meu) me tivesse visto dizia: "Ó menina, só te falta o chicote e o cavalo." Fui com o que me apeteceu vestir na altura. A minha tia quando me viu até me olhou de cima a baixo como quem diz: "Vais assim vestida?" Como ela certamente muita gente. Fui à missa pela alma do meu avó e não para uma cerimónia de gala ou um desfile...
2 comentários:
É o meu pai, um verdadeiro fixe!
É por estas e por outras que continua a achar que as “missas”, assim como grande parte das cerimónias públicas destes tempos são autênticas “feiras de vaidades”, onde as pessoas vão para ver, e serem vistas!
É verdade. E as pessoas vivem cada vez mais das aparências...
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