13 dezembro 2007

O Crime como Fenómeno Urbano

Os recentes casos de crime no Grande Porto que aqui denunciei levaram-me a pensar nas teorias da Escola de Chigaco no que respeita ao crime. Até que ponto a percepção do meio urbano por parte dos teóricos da Escola de Chicago se enquadra nos tipos de crime do Porto em particular, e dos meios urbanos de um modo geral?
- O crescimento económico e pressão demográfica presentes nos grandes núcleos urbanos;
- A constante vaga de imigrantes que põe em contacto pessoas com modos de vida diferentes;
- A complexidade dos processos de mobilidade e estratificação social nas cidades que põe em contacto indivíduos de diferentes estratos sociais e não estando a mobilidade social ao alcance de todos os indivíduos, ou seja, desigualdade de oportunidades;
- A diversidade de culturas;
- A predominância das relações sociais secundárias em deterimento das relações sociais primárias, que leva a uma quebra da solidariedade e coesão social.

Para Robert Park o comportamento humano é modelado pelas condições presentes no meio físico e social. O crime não é algo determinado pelas pessoas, mas determinado pelo grupo e meio envolvente.

Segundo Ernest Burgess o crime e o desvio resultam, sobretudo, da expansão e diferenciação dos processos de socialização dos indivíduos e grupos que habitam a cidade, causadas por via da pressão da mobilidade social.

Louis Wirth parece-me apresentar mais aspectos condicentes com o que se tem passado no Porto: contactos humanos superficiais e efémeros; indivíduos com personalidades frias, anónimas e calculistas; a competição e concorrência geradoras de diferenciação social; a mobilidade crescente que fragiliza a função controladora das regras, normas e mesmo dos valores. Diz Wirth que a cidade apenas consegue integrar e controlar uma pequena parte dos indivíduos.

Pode deduzir-se facilmente que o quadro organizacional, chamado para essas funções altamente diferenciadas, não assegura por si só a coerência e a integridade das personalidades que ele tem por função controlar. Pode esperar-se nestas condições, que a desorganização da personalidade, a depressão mental, o suicídio, a delinquência, o crime, a corrupção e a desordem sejam mais expressivas na cidade que na comunidade rural.
Louis Wirth

3 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A escola de Chicago é muito interessante, com as suas etnografias densas e minuciosas. :)

Helena Antunes disse...

A Escola de Chicago foi fantástica em inúmeros estudos! E a Sociologia que o diga!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Exacto. Antropologia, Estudos Urbanos e Filosofia, também. :)
Editei novo post sobre o crime que visa chamar a atenção para a criminalidade astuciosa, aquela praticada pelos abusadores do poder.
Abraço

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