...Alunos discriminados por classe social
O insucesso escolar é potenciado, em muitas escolas, pela escolha dos alunos com base no seu aproveitamento escolar e na sua origem social. Dois investigadores portugueses, especializados em Sociologia da Educação, constataram a selecção - ao arrepio da legislação existente e da própria Constituição - de alunos com base na análise do percurso escolar.
Os estudiosos apontam a existência de estabelecimentos de ensino muito próximos um do outro, mas com populações estudantis muito distintas, fruto de uma selecção que tanto dá origem a "nichos de excelência" como a "guetos de exclusão". Segundo afirmam, o comportamento "pouco democrático" de estabelecimentos de ensino público - que origina grandes assimetrias na rede de ensino - engloba, também, a constituição de turmas com base na diferenciação social e aproveitamento escolar.
Dois investigadores do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) estudaram as desigualdades na educação e o seu reflexo no insucesso escolar. E chegaram à conclusão - fruto da investigação feita em escolas básicas e secundárias - que a escolha dos estabelecimentos de ensino é, cada vez mais, objecto de lutas e pressões sociais.
Pedro Abrantes visitou cinco estabelecimentos de ensino (três escolas públicas dos 2.º e 3.º ciclos e dois colégios privados) situados próximos uns dos outros, em Lisboa. E constatou as injustiças existentes no processo de selecção dos alunos na ocasião das matrículas. "Escolas situadas no mesmo bairro têm públicos claramente contrastantes. Numa, cerca de 50% dos alunos apresentam elevadas taxas de insucesso, e na outra, quase ao lado, esse número fica-se pelos 2%", realçou.
No estudo elaborado, Pedro Abrantes verificou que numa das escolas (frequentada basicamente por alunos de classes sociais desfavorecidas), 50% dos alunos tinham sido recusados noutro estabelecimento, normalmente aquele preferido pelas classes sociais média ou alta.
O investigador - que participa na avaliação externa de escolas - afirma que as estratégias de segmentação dos alunos são nítidas. "É a crise de um sistema supostamente igual para todos, mas que cria nichos de excelência e guetos de exclusão, o que é "um risco para a escola inclusiva e integradora", sustentou.
Pedro Abrantes vai mais longe, ao realçar a própria constituição da turmas. "Em muitas escolas, numa lógica perversa, constituem-se turmas com filhos de professores, médicos e juristas e outras onde predominam alunos problemáticos. Mais grave ainda é ficarem os professores mais velhos com as turmas de excelência, cabendo aos mais novos as restantes", concluiu.
Jornal de Notícias
5 comentários:
Já é assim há bastante tempo. Uma fase anterior consistia em concentrar esses alunos em turmas à parte e entregá-las a professores novos. Agora é livrar as escolas deles. Este é um comportamento fascista. A nossa democracia é fascista... :)
É verdade, este comportamento existe há muito tempo, mas parece-me que não acontece só nas escolas.
Francisco e Gisela, têm razão, estes comportamentos já existem há muito tempo. Contudo, agora já começam a ser denunciados. E esperemos que mais do que denunciados, comecem a ser combatidos.
Cumprimentos a ambos!
Tive a opirtonidade de acompanhar a exelente entrevista na TV. É uma realidade altamente assustadora mas ao mesmo tempo não é uma novidade. É de facto triste viver num pais cuja desigualdade é uma realidade em muitos sectores. A educação é um deles
Sem dúvida, caro Sérgio. Como disse anteriormente isto não é novidade, já sucede há muitos e muitos anos. Mas pelo menos agora começam a ser mais visualizados e denunciados. Esperemos que estas desigualdades sejam atenuadas e este tipo de discriminação combatida.
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