26 dezembro 2007

A situação laboral em Portugal

A perspectiva de uma nova legislação laboral veio recordar- -nos que Portugal é um país de traumas, um país de discussões atrasadas, um país reaccionário, avesso às mudanças. Não é de esquerda, nem de direita, é a favor de quem for capaz de deixar as coisas estar como estão, enquanto isso for possível.

É espantoso que os patrões estejam sempre a pedir mais flexibilidade nas relações contratuais com os trabalhadores, mas depois não aproveitem as alterações na lei para organizar melhor as suas empresas. Não mudam horários, não planeiam as férias, não trabalham mais quando é preciso e menos quando há pouco para fazer. Tudo isto já é permitido por lei, mas os patrões preferem a socapa com que transformam trabalhadores efectivos em falsos recebidos verdes, aceitando empregados que pouco fazem mas têm vínculo às empresas. Para muitos patrões, um trabalhador legalizado, mesmo que competente, é um fardo e não a sua maior riqueza.

O contrário também é verdade. Na maioria dos casos, os empregados olham para o patrão como o inimigo e raramente como o empreendedor que lhes possibilita terem o trabalho com que ganham a vida. A saúde da empresa pouco lhes importa, o desperdício não os incomoda, são problemas do patrão.

Se houvesse capacidade de adaptação, haveria de certeza menos desemprego; mas isso é uma coisa que só parece preocupar quem não tem trabalho.

Não vale a pena alterar a lei se a mentalidade não mudar. É preciso acabar com a luta de classes, é preciso que patrões e empregados percebam que o êxito da empresa interessa a todos.

Paulo Baldaia, Chefe de Redacção do JN

Óptimo texto este! E percebemos que o mal da situação laboral em Portugal não se centra somente de um lado, mas concentra-se em três vértices: Estado; entidades empregadoras; trabalhadores.

7 comentários:

BEJA TRINDADE disse...

A mentira para ser segura e atingir profundidade, deve trazer à mistura qualquer coisa de verdade.

António Aleixo

Anónimo disse...

Neste assunto tenho uma posição muito clara. Ponho a responsabilidade toda, reforço toda, nos ombros dos patrões. O empregado está nas mãos de quem o governa. E os patrões em Portugal governam bastante mal. As empresas nacionais, que não fecham por motivo do custo da mão de obra, fecham sim por má gerencia. A falta de ambição é um dos factores e a estagnação é uma realidade. Esticam o que podem esticar. Abusam do empregado fazendo com que se crie uma barreira entre a entidade patronal e o simples operário. Dai o empregado vê o patrão como um inimigo

Helena Antunes disse...

Concordo contigo, Sérgio. Mas também acho que trabalhadores e Estado tem a sua quota de responsabilidade para fazer melhorar o actual sistema.

AGRY disse...

Debati-me com muitas hesitações em opinar sobre esta postagem!
Em primeiro lugar, por uma questão de bom senso. Invadir propriedade privada e insurgir-me com o seu proprietário, é obra!
Depois, bem..depois, ninguém tem o direito de exigir que os outros partilhem das suas opiniões.
A vantagem, se assim se pode rotular, é a de colorir politicamente o blog, isto é, diversificar as cores politicas que o habitam, regularmente.
Irei ser breve, prometo!
Paulo Baldaia é um idealista sem ideais. Agradar a gregos e troianos já foi experimentado por muitos e não resultou.
Conciliar o irreconciliável , ganhará foros de cliché na mentalidade seguidista do sub-chefe. Mas é o que penso, e o que pensam, certamente, centenas de milhares de cidadãos

Helena Antunes disse...

Caro Agry, está à vontade para comentar e divulgar as suas ideias sempre que quiser, mesmo que não vão de encontro às aqui publicadas. É a diversidade de ideias que enriquece o debate!

Cumprimentos.

AGRY disse...

Obrigado Helena, voltarei

BEJA TRINDADE disse...

É sabido que há uns tempos a esta parte, estão a destacar-se vários pontas de lança nos meios de comunicação social ao serviço do capital, este senhor Paulo Baldaia é um deles, é aquilo a que podemos chamar um exímio "lambe botas".

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