02 dezembro 2007

O domínio Norte-Americano

"Enquanto Portugal se entretém com as suas pequenas querelas, a América decide o destino do mundo."

Vasco Pulido Valente, em O Público

13 comentários:

Paula disse...

O mundo se continuar a depositar o seu destino nas maos dos americanos caminha, alegremente, para o seu fim. Essa civilização que se diz democratica e superior, de democracia tem muito pouco pois não houve o resto do mundo e tem a pretensao de mandar em tudo e todos. espero que as pessoas se apercebam do mal que o Bush faz ao mundo, porque ainda há tempo para remediar certos erros.

Helena Antunes disse...

Infelizmente parece-me que os EUA continuarão a comandar o mapa político...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Helena
Lancei-lhe outro desafio e a Aveugle.Papillon fez um post artístico. Abraço (Gosto da América Democrática e liberal.)

Anónimo disse...

Bush, América, Iraque, Petróleo... Tudo lugares comuns de uma realidade muito mais complexa. A dinâmica internacional não se reflecte no mediático com exactidão. Há uma outra realidade subjacente que é a da REALPOLITIK. É aí que as coisas se fazem. Bush é apenas uma imagem parca do absurdo que é a hegemonia americana.

Helena Antunes disse...

Tem razão, Luciano. A política norte-americana é obscura, há muita coisa que não passa para os media.

Abraço.

Anónimo disse...

Ao longo de quatro anos discuti quase todas as semanas esta questão, no café com os colegas, nas aulas com os professores e em conversas mais ou menos formais com este e aquele. A hegemonia americana é uma coisa que não podemos negar, agora desde quando é que já suscita a discussão. A hegemonia americana surge no fim da Segunda Guerra Mundial ou em 1991 quando cai a URSS? Na minha opinião é em 1991, pois só nesta data os EUA podem exercer verdadeiramente o seu papel hegemónico no mundo, só após a queda a URSS a influência americana consegue chegar aos quatro cantos do mundo, pois até ao ano de 1991 existia uma hegemonia bipartida, entre os EUA e a URSS.
A hegemonia americana é exercida através dos mais variados meios, sendo o político, o militar e o económico os mais importantes, no entanto descuramos muitas vezes o papel dos media americanos que influenciam milhões de pessoas todos os dias, através dos seus canais de televisão, agência noticiosas e cinema. Ninguém está imune a esta influência americana, quer queira quer não queira.
Penso que a questão da hegemonia está muita mal analisada actualmente, pois é considerada por uma grande parte das pessoas como um fenómeno novo, que surge pela primeira vez no Século XX, não é verdade. A hegemonia é um fenómeno muito antigo, que podemos até considerar, foi iniciada pelo nosso país: se consideramos os Estados Modernos, ou seja, após “Westfália” Portugal exerceu sobre o mundo um poder hegemónico, na altura dos descobrimentos portugueses. Então, podemos considerar que a hegemonia mundial é algo que existe desde o início das relações internacionais, ou relações interestaduais, que foi passando de mãos em mãos, ou seja, iniciada por Portugal, passada para a Espanha, que a perdeu para o poder comercial dos Holandeses. Através do seu poder comercial a Holanda consegui criar suficiente poder político e militar para alcançar a hegemonia mundial, e, por muitos anos, conservá-la. A Holanda só foi passada para um segundo plano pela França, que manteve a sua hegemonia mundial até que o Império Inglês a conquista, e conserva, até que se inicia a Primeira Grande Guerra Mundial, e os EUA intervêm, pela primeira vez, como actor de grande importância na cena internacional. Após o fim da guerra, os EUA esbatem a sua imagem internacional novamente, relembro que não participam na Sociedade das Nações, por veto do Senado americano. Quando a Europa enfrenta a Alemanha nazi, os EUA decidem não participar, até que “são obrigados” a entrar na guerra. No final da guerra assumem um papel de hegemonia bipartida, a meias com a URSS, é a guerra fria, e no fim desta, em 1991, quando a URSS se desmembra, os EUA assumem a hegemonia mundial sozinhos, e usam-na como todos nós sabemos, e da forma que conhecemos.
Em suma, a hegemonia mundial é um fenómeno histórico comum. Cada estado hegemónico exerce essa hegemonia em seu proveito, à sua maneira, de forma a aproveitar o seu poder da melhor forma, enquanto o seu tempo durar, pois este é outro facto incontornável da hegemonia à escala mundial: começa, atinge o seu auge e depois termina, é tudo uma questão de tempo, pelo menos é isto que a história nos ensina.

Anónimo disse...

Concordo parcialmente com as afirmações do Pedro. A hegemonia é um facto! Os EUA detêm um poder hegemónico? Certo! Isoladamente? Não creio! Está atento ao novo equilíbrio de poderes que se começa a desenhar? A onda de revivalismo que une a Rússia? A China? Os países Sul-Americanos? Além disso, qual é o seu critério para definir hegemonia e para o aplicar no período histórico x ou y? O poder ecómico, monopólio de relações comerciais? Influência cultural? Os famosos centros de «Economia-Mundo» de Braudel? Qualquer que fosse, pelo menos neste elenco, o Pedro teria que falar no Crescente Féril, A mesopotâmia, Egipto, Micenas, Pérsia, Atenas, Macedónia, Roma, Bizâncio, Islão, Génova, Florença... Portugal? Não se deveria falar antes em período Ibérico? Já me circunscrevo à realidade que nos está mais próxima, porque então teria que falar no Império Chin e Mongol.
A história ensina-nos, sim, que os Impérios nascem, transformam-se e caem. A história é o que é, independentemente de qualquer juízo de valor. No entánto, esta posição epistemológica não se confunde com a CRÍTICA. Apenas se deve dispensar o romantismo, pelo menos nestas questões...

Anónimo disse...

Caro Luciano

Antes de mais deixe-me relembrar-lhe o seguinte: por não querer recuar tanto na História da Humanidade, e recuar aos tempos de todos os impérios que falou, eu apenas considerei os Estados Soberanos como nós os conhecemos hoje, ou seja, já pela tipologia de Estados Modernos, conceito que nasce pouco depois do Século XIII. Não me pareceu lógico referir os Impérios que refere por uma questão de raciocínio histórico, ou seja, estes Impérios clássicos e pré-clássicos pouco ou nada tem a ver com os Estados Modernos, na sua tipologia, organização e acção.
Os critérios por mim usados para definir estes ciclos hegemónicos mais não foram do que todos aqueles que acabou por enumerar: poder económico, cultural, político, militar e monopólio comercial (de rotas comerciais por exemplo). Portugal durante bastante tempo dominou rotas comerciais, conhecia em exclusividade rotas cartográficas, tinha um poder militar (através das suas praças fortes na costa africana) temível, detinha na exclusividade (pelo menos por algum tempo) conhecimentos e tecnologias de navegação avançadíssimas para a época etc. Espanha surge, e bem verdade, rapidamente ao nosso par, e rapidamente nos ultrapassa, sendo por isso que tenho que concordar que apesar de ter existido um domínio das duas, à época, potências ibéricas separadamente, também existiu um poder ibérico. O período hegemónico Holandês surge com base nas relações económicas privilegiadas, e permite a Holanda desenvolver um poder enorme em tudo o que podemos chamar de Relações Internacionais na época. A França impõe a sua vontade ao mundo pela força das armas, seguindo-se a Inglaterra. O Império Britânico pela força das armas, pela força do seu poder militar e político impõe-se internacionalmente, apoiado pelo enorme poder económico que consegue criar e desenvolver.
As hegemonias, caro Luciano, são algo que todo o mundo sente, e faz parte dos livros de História, todos os exemplos que enumerei fizeram tremer o mundo: quando Portugal dominava os mares, quando Espanha marchava por terra e por mar, quando as frotas comercias Holandesas se estabeleciam, quando os exércitos Franceses subjugavam países inteiros e quando o poder imperial Inglês se manifestava por todo o mundo povos tremiam e cediam à sua vontade, sujeitavam-se à sua cultura, língua e modos de vida.
Actualmente, é um facto, o poder da China. Porém, ainda não os podemos considerar como um país hegemónico, não a nível planetário, a nível regional sim, claro que sim! A Rússia enfrenta demasiados inimigos internos para se poder manifestar exteriormente, o seu mítico poder bélico está obsoleto, e os seus aliados de sempre deixaram de o ser, e passaram para a esfera de outra potências emergentes, ou existentes. Quanto aos países da América do Sul (?), qual deles considerar uma potência? Nenhum tem poder político para se impor internacionalmente de forma hegemónica, qual deles influencia culturalmente países do outro lado do atlântico?
Caro Luciano concordo, era essa a ideia que eu pretendia realçar com o meu texto, os impérios nascem e caem, e é o que irá acontecer aos EUA, mais cedo ou mais tarde. Parece-me que o poder se manifesta de forma forte a oriente, o gigante Chinês é uma potência em crescendo, mas ainda não é uma potência hegemónica.

Helena Antunes disse...

Luciano e Rui, gostaria de lançar-lhes um desafio:
- Até que ponto é Bush quem determina o mapa político e faz com que os EUA detenham essa hegemonia exercendo o poder em vários domínios; como interpretam o papel da personagem Bush?
- Numas próximas eleições, se ditarem que o Presidente dos EUA será outra pessoa que não Bush, acham que essa outra pessoa conseguirá perpetuar a hegemonia norte-americana?

Anónimo disse...

Cara Helena,
Bush deixará de ser o Presidente dos EUA, seja quem for que ganhe as próximas eleições do próximo ano. Segundo a Constituição dos EUA nenhum Presidente pode ser reeleito uma terceira vez consecutiva, ou seja, Bush, deixará a presidência de qualquer das maneiras.
O Chefe de Estado dos EUA, apesar de ser peça importante no papel hegemónico no mundo é só, mais, um peão no xadrez político, cultural e económico mundial, no qual os EUA são peça fundamental. Segundo alguns teóricos, americanos e europeus, o próprio Presidente Bush é um peão da política americana, manietado pelos “falcões” (a linha dura da política americana, ou seja: Robert Joseph, John Bolton, Donald Rumsfeld, Paul Wolfowitz, Stephen Cambone, Douglas Feith, Dick Cheneyw e Lewis Libby), que controlam verdadeiramente, quer Bush, quer toda a política americana. Analistas acreditam que são estes homens quem verdadeiramente controla a politica americana, bem como as suas relações internacionais, nomeadamente quem convenceu Bush a iniciar a guerra contra o Iraque, a guerra contra o terror e os verdadeiros pais, do conceito que Bush lançou na imprensa: o “eixo do mal”.
Cara Helena, a posição hegemónica dos EUA no mundo não depende dos “actores” que a conduzem, pois já antes de Bush (e do seu pai) liderarem os EUA, a política hegemónica dos EUA se manifestava. A cultura americana, bem como o seu poder político, económico e militar estão de tal forma disseminados pelo Mundo que já se misturaram com o “normal” funcionamento dos restantes países. A postura de liderança, a nível mundial, que os EUA assumiram a todos os níveis, desde o fim da URSS, não se pode simplesmente desligar num botão, não cessa simplesmente do dia para a noite, porém, também não se perpetuará pela eternidade, pois como já foi, mais do que uma vez referido neste blogg, as hegemonias, tal com os impérios a nível, mais ou menos, global, tendem, sempre, a ter um fim.

Anónimo disse...

Penso que é interessante o desafio que a Helena colocou, mas antes demais queria esclarecer algumas questões.
Estive a reflectir na problemática que este post levantou (embora sempre bastante condicionado pelas minhas obrigações profissionais) e gostava de as partilhar com os visitantes do blog, e muito em especial com o Rui Pedro. Preliminarmente seria também importante sublinhar: 1- Continuo com esta disputata questio, não por qualquer vontade de vitória ou gabarito pessoal, mas principalmente como uma forma de permuta de ideias amiude interressante para um "curioso" na matéria como eu; 2- Por outro lado, não gostava que qualquer das minhas opiniões exalem um "cheiro a política", que está completamente fora da minha pretensão.
Portanto, se eu compreendi bem, o Rui Pedro alia a Noção de Império ao nascimento dos Estados Soberanos, no qual se destaca o período pós Vestefália (que o Rui Pedro fez questão de acentuar, e bem) como factor político delimitador, o que ao nível cultural nos remeteria paralelamente para o Leviathan de Hobbes, a soberania de Bodin, isto é, o nascimento do Ancien Régime ao qual pôs fim a explosão (e implosão) da Revolução Francesa. Parece-me também interessante a referência que o Rui Pedro faz ao período dos Descobrimentos, o qual associa ao nascimento do Estado soberano (pelo meos foi o que entendi), uma vez que essa tem sido um pouco a "pedra de toque" da discussão à volta do nascimento do Estado soberano. Não se poderá ver já na empresa dos descobrimentos uma superação da estrutura política e económica medieval, na medida em que se edifica a primeira empresa estadual com razoável nível de coordenação e formação de uma máquina administrativa? Mas isto são outras águas que não cumpre navegar agora...
Onde eu não posso concordar de alguma forma com o Rui Pedro é quando associa a ideia de Império ao Estado soberano. Porquê?
Um dos grandes dramas do animal pensante que é o Homem é a comunicação. Este fá-lo com a linguagem, isto é, uma criação humana... Um instrumento contingente. Portanto, qualquer possibilidade de construção passa por essa desconstrução da linguagem. Quando o Rui Pedro fala em Império, Hegemonia, Soberania, Estado, designa conceitos que não são imutáveis ao longo dos tempos. Assim, a própria noção de Império seria um conceito que se reconstrói ao longo dos tempos. Um Império Romano que se impõe, primeiro militarmente para depois conquistar os seus súbditos "pelo coração" ao conceder-lhes a cidadania romana: o prestígio de ser um cidadão romano. Terá alguma coisa a ver com um Império Sacro-Santo Romano-Germânico que faz estender a sua mão invisível sobre a Europa sob o referente comum do cristianismo?
Ao estabelecer esse «corte vertical» do conceito de Império para o nascimento do Estado soberano poderá ter razão, mas não será apenas para essa época? Parece-me que se pretender associar esse critério à existência de IMPÈRIO, a sua perspectiva é redutor e o seu critério é, no mínimo, frágil...
Além disso, existem referentes comuns que perpassam toda a história: o sentimento colectivo, o referente comum, a radicação na consciência colectiva da comunidade de uma ideia de pertença. Quando isto se verifica, aí sim, temos império, em qualquer época histórica...
Quanto ao desafio posto pela Helena, subscrevo e identifico-me, grosso modo, com o que disse o Rui Pedro.

Cumprimentos

Helena Antunes disse...

A acontecer a curto/médio prazo a queda do poderio norte-americano, qual a potência que vêem a emergir e comandar os destinos do mundo? A China como vocês referiram? Ou estão a ver outro país que possa emergir como superpotência?

Obrigada a ambos pela discussão de ideias! :)

Anónimo disse...

Caro Luciano, gostaria de dizer que este debate de ideias me está a agradar imenso. É construtivo e enriquecedor, pelo menos para mim tem sido assim, uma vez que ultimamente tenho estado um pouco afastado destas discussões, uma vez que me afastei também da minha área preferencial, a “Ciência Política e Relações Internacionais”, e me embrenhei a fundo naquela que é, e que também gosto, a minha área profissional, as “Economias” e mundo financeiro.
Quanto ás questões que coloca permita-me que lhe apresente as minhas desculpas, pois quando referi “Império” foi num sentido meramente figurativo, uma vez que está, e sempre esteve, longe de mim a ideia de fragilizar e minimizar tal conceito, como muito bem afirma. Não se pode, de facto, utilizar o conceito de “Império” de uma forma tão redutora, pois corremos o risco de enfraquecer o conceito e minimiza-lo. De facto, não podemos comparar aquilo a que chamei de “Império” com o que foram os vários impérios de que nos fala a História, e que tão bem nos recorda o Luciano, mas certamente percebe o que quero dizer quando uso o conceito de “Império”, neste sentido figurativo, a que estamos habituados no Século XXI.
Sem querer ganhar um perder um debate, mas sim comparar e debater ideias, deixe-me questionar algo que afirma: “...existem referentes comuns que perpassam toda a história: o sentimento colectivo, o referente comum, a radicação na consciência colectiva da comunidade de uma ideia de pertença. Quando isto se verifica, aí sim, temos império, em qualquer época histórica”. Este conceito, ou esta ideia, “de consciência colectiva da comunidade”, e de “ideia de pertença”, não pertence ao conceito de “Império”, nem ao de “Estado”. Normalmente associado ao conceito de “Estado” surge o conceito de “Nação”, que é realmente um sentimento comum à comunidade, de partilha, de consciência colectiva da comunidade, de história e objectivos futuros comuns, este é o conceito de “Nação”. Apesar de existirem “Estados Nação” nem todos o são, como por exemplo Espanha, que dentro do seu território abarca várias “Nações”, como por exemplo a “Basca”, ou a “Catalã”. Estas “Nações”, muitas vezes vivem no território de “Estados”, e neles constroem a sua comunidade, com um sentimento comum, e muitas das vezes diferente do sentimento do “Estado” em que estão inseridos.
Cara Helena, o conceito de “superpotência” é de difícil e continua construção, depende de uma conjunto de variáveis muito instáveis, tal como a actual política internacional, que depende sempre das mais variadas, e por vezes inesperadas, conjunturas, no entanto quem neste momento se assume como “pretendente” mais forte a “superpotência” de escala mundial, pois há algumas “supertotências” à escala regional, é, realmente, a China (que é já uma “superpotência” regional e uma enorme potência mundial). Pela sua geografia, demografia, economia e cultura a China poder vir a ultrapassar os EUA em termos hegemónicos, porém, só tempo o dirá.

Os melhores cumprimentos, amiga Helena e caríssimo Luciano.

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